1. Lectio (Leitura)
O trecho “Senhor, é bom estarmos aqui” encontra-se no Evangelho de Mateus, no contexto da Transfiguração de Jesus. Pedro, Tiago e João sobem com Jesus ao monte e presenciam uma revelação gloriosa: Cristo resplandecente, ao lado de Moisés e Elias. Tomado pela maravilha do momento, Pedro expressa seu desejo de permanecer ali, sugerindo a construção de tendas.
São João Crisóstomo explica que Pedro, tomado pelo êxtase da visão divina, deseja perpetuar esse momento, mas ainda não compreende plenamente que a glória de Cristo se manifestaria plenamente na cruz e na ressurreição. Santo Agostinho, por sua vez, vê na Transfiguração um vislumbre da vida eterna, onde a contemplação de Deus será contínua e definitiva.
2. Meditatio (Meditação)
Pedro manifesta um sentimento profundo que também experimentamos em momentos de intensa presença de Deus: o desejo de permanecer na sua luz e na sua paz. Quantas vezes, ao rezarmos, sentimo-nos envolvidos pela bondade divina e não queremos que aquele momento acabe? No entanto, a Transfiguração também nos lembra que, após a experiência da glória, é necessário descer do monte e seguir o caminho da cruz. Nossa vida cristã deve equilibrar momentos de contemplação e de ação.
São Tomás de Aquino ensina que a Transfiguração antecipa a bem-aventurança celestial e confirma a fé dos discípulos, fortalecendo-os para os sofrimentos futuros. Santa Teresa de Ávila, por sua vez, nos recorda que a experiência mística não deve nos afastar do mundo, mas sim fortalecer-nos para o serviço ao próximo.
O caminho da intimidade com Deus passa por esse desejo profundo de não mais querer sair de Sua presença. Quando experimentamos a glória de Deus na oração, sentimos que nada mais no mundo pode nos satisfazer como Ele. São João da Cruz descreve essa experiência como um amor abrasador que transforma a alma e a impulsiona a desejar somente a Deus. A oração torna-se essencial para esse percurso, pois é por meio dela que nos unimos mais profundamente ao Senhor, permitindo que Ele molde nosso coração e nos conduza à verdadeira felicidade.
3. Oratio (Oração)
Senhor, como Pedro, também queremos permanecer em tua presença, pois sentimos que é bom estar contigo. Mas sabemos que nos chamas a viver tua vontade no cotidiano, a descer do monte e testemunhar teu amor no mundo. Ajuda-nos a reconhecer tua presença tanto nos momentos de consolação quanto nos desafios do dia a dia.
Santo Inácio de Loyola nos ensina a buscar Deus em todas as coisas, lembrando-nos de que sua presença não se limita aos momentos extraordinários, mas permeia nossa vida diária. Pedimos a graça de reconhecer e amar o Senhor em cada situação.
4. Contemplatio (Contemplação)
Diante dessa Palavra, convido-me a simplesmente estar na presença de Deus, deixando que Ele transforme meu coração. Sinto-me chamado(a) a reconhecer e saborear a bondade do Senhor em cada momento, sabendo que Ele caminha comigo em todas as circunstâncias.
São João da Cruz ensina que a alma deve aprender a desapegar-se das consolações sensíveis para buscar a Deus por Ele mesmo. Assim, somos convidados a descansar na presença do Senhor, independentemente das emoções que possamos sentir. Esse descanso espiritual nos leva a desejar cada vez mais estar em comunhão com Deus, a ponto de não mais querer sair de Sua presença.
5. Actio (Ação)
Hoje, posso buscar reconhecer a bondade de Deus nos pequenos detalhes da vida e levá-la aos outros. Como posso testemunhar essa experiência no meu dia a dia? Talvez com um gesto de amor, um ato de gratidão ou simplesmente com um coração aberto à presença divina.
A oração deve ser o alicerce dessa busca por intimidade com Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus nos ensina que a oração não precisa ser complexa, mas deve ser feita com amor e confiança, como uma conversa sincera com o Pai. Quanto mais nos entregamos à oração, mais nosso coração se inflama pelo desejo de permanecer em Sua presença.
São Francisco de Sales aconselha que cada momento de oração deve nos impulsionar para uma vida mais caridosa e ativa. Assim, ao reconhecermos que “é bom estarmos aqui”, devemos também nos perguntar: como podemos levar essa experiência aos irmãos?
Que possamos, como Pedro, reconhecer: “Senhor, é bom estarmos aqui”, e ao mesmo tempo nos dispormos a seguir Jesus em todos os momentos de nossa jornada, cultivando uma oração contínua que nos mantenha sempre na presença de Sua glória.