Em meio às complexidades e desafios do mundo atual, a passagem “Os confins do universo hão de adorar ao nosso Deus” (cf. Salmo 22:28) ressoa como um convite e uma promessa. Esta frase não apenas expressa uma esperança, mas também aponta para a soberania divina e o destino final da humanidade. Em um mundo que frequentemente esquece de Deus, somos chamados a refletir sobre o significado desta declaração e como ela se aplica à nossa vida pessoal, à sociedade e à missão da Igreja.
Um mundo que esqueceu de Deus
Nos dias de hoje, o esquecimento de Deus é evidente em muitas esferas. Vivemos em uma época de relativismo moral, materialismo e individualismo exacerbado, onde as prioridades humanas frequentemente se afastam da vontade divina. Papa Bento XVI advertiu que “uma sociedade sem Deus é uma sociedade sem rumo”. Quando o Criador é relegado ao esquecimento, as consequências são visíveis: a desumanização das relações, a indiferença ao sofrimento do próximo e a destruição do meio ambiente.
Esta realidade, contudo, não é nova. A história da humanidade é marcada por ciclos de esquecimento e redescoberta de Deus. No Antigo Testamento, os profetas frequentemente exortavam o povo a retornar ao Senhor: “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração” (Joel 2:12). Hoje, mais do que nunca, essa chamada é urgente.
O senhorio universal de Deus
A passagem do Salmo 22 aponta para um futuro em que toda a criação reconhecerá a soberania de Deus. “Diante dele se prostrarão todos os reis da terra; as nações o servirão” (Salmo 22:28). Essa visão profética também está presente no Novo Testamento, quando São Paulo declara: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos infernos, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2:10-11).
Os santos são testemunhas de como essa realidade pode começar a se realizar aqui e agora. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Quero passar meu céu fazendo o bem na terra”, mostrando que a verdadeira adoração a Deus se manifesta em obras de amor e misericórdia. Da mesma forma, São Francisco de Assis reconhecia a presença de Deus em toda a criação, chamando-a a louvar ao Criador: “Louvado sejas, meu Senhor, por todas as tuas criaturas”.
A adoração dos Reis Magos é um exemplo poderoso do reconhecimento da soberania divina. Esses homens, vindos de terras distantes, seguiram a estrela até Belém para adorar o Rei dos reis. “Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram. Depois, abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mateus 2:11). Este episódio é um sinal de que, desde o nascimento de Cristo, a adoração a Deus ultrapassa fronteiras e alcança os confins da terra.
A missão da Igreja: levar Deus aos confins do universo
Diante de um mundo que se esqueceu de Deus, a Igreja tem a missão de anunciar o Evangelho às nações, conforme o mandato de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Este chamado não é apenas para os missionários, mas para cada cristão, que é chamado a ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mateus 5:13-14).
Papa Francisco frequentemente exorta os fiéis a serem “discípulos missionários”. Isso significa levar o amor de Deus para além das fronteiras da própria paróquia, para as periferias existenciais onde a fome de Deus é maior. Como disse Santo Agostinho: “Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti”. Essa é a realidade do ser humano: um desejo profundo de Deus que somente Ele pode satisfazer.
Na celebração da Epifania, a Igreja também promove um costume rico em significado: a bênção do lar. Com as inscrições de “C + M + B” e o ano em curso, pede-se a proteção divina para a casa e seus habitantes. Essa tradição recorda a visita dos Magos e reflete a missão de cada família cristã: ser um lugar onde Deus é honrado e sua presença se torna palpável.
Renovando a adoração a Deus
Para que os confins do universo adorem a Deus, é necessário que cada cristão reavive sua vida de oração e adoração. A oração é o coração da vida cristã, como ensina Santa Teresa de Ávila: “A oração é um diálogo de amizade com Aquele que sabemos que nos ama”. Sem uma profunda intimidade com Deus, não é possível ser testemunha autêntica de sua presença.
A Eucaristia, fonte e cúpula da vida cristã, é o lugar onde essa adoração se realiza de maneira plena. Na celebração da Missa, o mistério da salvação é renovado e somos enviados a testemunhar no mundo o amor de Cristo. A adoração eucarística também é um poderoso meio de reavivar a fé e interceder pela conversão do mundo.
Esperança e confiança na promessa divina
Apesar dos desafios, a promessa do Salmo 22 nos convida à esperança. Como Cristo afirmou: “No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” (João 16:33). A vitória de Cristo é garantia de que o amor de Deus triunfará e de que todos os confins do universo reconhecerão sua soberania.
Que possamos, como cristãos, ser instrumentos dessa transformação. Inspirados pelo exemplo dos santos e fortalecidos pela graça dos sacramentos, avancemos com coragem, levando o nome de Deus a todos os lugares e testemunhando, com nossa vida, que Ele é o Senhor de toda a terra. Assim, cumpriremos o mandato de Cristo e apressaremos o dia em que “os confins do universo hão de adorar ao nosso Deus”.